Como a neuropsicologia pode ser uma aliada no ensino da dança – Maria Cristina Lopes


Ainda que o ritmo seja familiar, os movimentos de quem aprende uma nova coreografia produz uma série de ativações em regiões do cérebro. Isso significa que colocar um passo em prática durante o aprendizado da dança, implica em um grande esforço cognitivo.

“Então, aprender uma coreografia, uma sequência pré-estabelecida de movimentos, requer complexas e especializadas “ferramentas” neurais”. Ribeiro & Teixeira

Compreender este processo por meio da aplicação de estudos sobre neuropsicologia — área que estuda as relações entre cérebro e o comportamento humano — pode oferecer insights importantes para serem levados à sala de aula.

Da ideia à ação: compreendendo os estágios da aprendizagem na dança 

Pesquisas em neuropsicologia mostram como o aprendizado da dança passa por diferentes estágios. No primeiro, que compreende a aprendizagem motora, entram em ação funções executivas como:

•     atenção seletiva

•     memória operacional

•     solução de problemas

•     tomada de decisões

•     planejamento e

•     motivação

Para compreender melhor o papel dessas funções, pode-se recorrer a seguinte definição:

“Essas são um conjunto de habilidades que, de forma integrada, permitem ao indivíduo direcionar comportamentos a metas, avaliar a eficiência e adequação desses comportamentos, abandonar estratégias ineficazes em prol de outras mais eficientes e, deste modo, resolver problemas imediatos de médio e longo prazo (FUENTES, D.; MALLOY-DINIZ, 2008).

Além dessas, também são ativadas áreas relacionadas à produção motora. É neste momento que o bailarino começa a compreender a tarefa e buscar formas de colocá-la em prática. Por isso, ainda não é o momento ideal para exigir que um movimento seja realizado com extrema precisão, por exemplo.

Com a imitação e a repetição dos passos, o bailarino entra em uma segunda fase onde já não precisa de tanto esforço para manter a atenção e assim refinar os movimentos. E é depois de inúmeras repetições que o aprendizado é consolidado, chegando ao estágio autônomo.

“Nesse momento, o intérprete pode emocionar-se com alguém da plateia, com a própria apresentação, pode lidar com algum imprevisto na execução coreográfica, ou seja, pode concentrar-se numa tarefa secundária por haver se especializado na sequência e otimizado a eficiência do movimento” (RIBEIRO, 2007).

A neuropsicologia e as estratégias para manter a atenção 

Uma das funções executivas mais importantes é a atenção. Fazer com que os alunos mantenham o foco durante a aula é sempre um grande desafio. Logo, o importante é desenvolver formas de minimizar os impactos desses momentos de dispersão.

O primeiro passo é não associar a falta de atenção a uma falta de compromisso com aquilo que está sendo ensinado. Existe uma curva dentro da normalidade onde alguns conseguem se concentrar por mais tempo em relação aos outros. No entanto, quem tem mais dificuldade não necessariamente está fora desse padrão. O fato é que é impossível manter-se focado 100% no período de uma aula.

Também é importante ressaltar que essa capacidade de atenção pode ser treinada. Ainda assim, sempre existirão diferenças entre alunos de uma mesma turma. A partir dessa consciência e do conhecimento prévio dos interesses de cada aluno, algumas estratégias podem ser aplicadas.

Talvez colocar um aluno que tenha grande interesse em socializar ao lado de um amigo possa gerar distração. Contudo, é possível que o professor perceba que ainda assim, é importante oferecer algum momento de socialização durante a aula para que este aluno mantenha o foco e a motivação.

Outra situação bastante comum acontece com alunos dispersos que passam a apresentar melhores resultados em uma turma mais calma.

Para obter sucesso, é importante que o professor conheça o perfil de cada aluno e aprenda a olhar sob a ótica dele. Dessa forma, o entendimento sobre aspectos da neuropsicologia podem auxiliar nas melhores formas de lidar com dificuldades durante o ensino.

Culpar um aluno pela falta de atenção pode ter um efeito contrário do desejado, uma vez que ele pode se sentir frustrado por entender que o professor não consegue enxergar e reconhecer o seu esforço.

A busca de novos estímulos 

O cérebro tem uma grande capacidade de adaptação a qual a ciência chama de neuroplasticidade. Ela pode e deve ser trabalhada através de estímulos. Na dança, isso pode ser feito:

•     Humanizando os alunos e entendo que cada um tem um perfil diferente

•     Compreendendo as motivações do aluno para adiantar ações frente a possíveis distrações.

•     Mantendo expectativas pautadas na realidade.

•     Proporcionando um ambiente acolhedor

Vale destacar que esses esforços podem ser prejudicados pelo stress que interfere negativamente nesse processo. Um ambiente motivado pela competitividade e cobrança exagerada afasta o aluno de estímulos necessários para o desenvolvimento.

Por sua vez, a neuroplasticidade pode ser estimulada por meio da dança, principalmente quando há geração de um ambiente acolhedor mantido pelo professor.

O conhecimento profundo de cada aluno proporciona uma experiência individualizada e que atende necessidades específicas, o que aumenta a chance de facilitar o aprendizado.

Maria Cristina Lopes – Criadora do Psicologias Online e do Curso Psicologia da Dança. Inspira pessoas a viver de suas paixões.
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